terça-feira, 14 de agosto de 2007

Dia dos Pais

Ontem foi dia dos pais. Há 12 anos esse dia me incomoda... Ao longo desse tempo tento desenvolver estratégias para fazer com que o dia passe, aliás, a época passe e eu não me machuque tanto com a falta do meu próprio pai. Dessa vez eu entrei num processo de alienação total no domingo: ouvi música, fiz faxina no meu quarto, vi dois filmes locados e não fui a qualquer restaurante ou shopping. Tudo para me manter longe do mundo que celebrava a presença dos pais.
Eu sei muito bem que esse é mais um dia eleito pela mídia para fazer com que as pessoas consumam mais, mas é o bombardeio sobre o assunto que me faz desmoronar. Meu pai faz muita falta; ele era um pai de verdade. E ouvir a cada dois minutos (às vezes até menos) que devemos celebrar este dia, é como se eu estivesse sendo lembrada na mesma freqüência da ausência do meu pai, da falta que ele faz. É horrível ter que encarar estes dias eleitos para comemorar a presença desta ou aquela pessoa na vida da gente, quando o que há é a ausência.
Fico pensando não só na minha angústia, mas na angústia de todos aqueles que não querem ser lembrados da ausência de alguém... Essas comemorações passam feito rolo compressor por cima de pessoas que, por um motivo ou outro, não têm o que comemorar. E então você pode me perguntar: "Mas por que você não celebra o pai maravilhoso que teve?" Respondo com outra pergunta: "Como celebrar a perda de alguém maravilhoso?" Não sei. Levar flores ao cemitério é triste demais para mim...
Pensando nestas comemorações é que me vem à cabeça uma frase que ouvi um dia desses: "Alguém tem que chorar para um outro sorrir." É verdade. E por isso me recolho na minha pequeninice, no cantinho do meu quarto, e choro baixinho para não superar as risadas do vizinho...

4 comentários:

  1. Minha mãe costuma dizer que a gente aprende a conviver com a perda das pessoas que a gente ama, mas não a aceitar ou entender. Se a pessoa for realmente importante pra gente, vamos sentir falta até o fim dos dias.
    Acho que o máximo que podemos fazer é tentar nos prender às lembranças boas que tivemos, e carregar aquilo dentro da gente como um incentivo de vida, uma força a mais para seguirmos em frente. Além de fazer com que essas pessoas dêem um sorriso onde quer que elas estejam, quando virem que estamos seguindo o caminho do bem.
    Eu ainda tenho meus pais, mas ler esse texto me fez escorrer uma lágrima lembrando da minha avó...
    Bom, o que sei é que, onde quer que seu pai esteja, ele tá cheio de orgulho da filha que criou.
    Um grande beijo pra ti menina, se cuida

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  2. Definitivamente é isso que acontece... A gente tenta administrar a perda... Aceitar, jamais.
    Quanto ao meu pai estar orgulhoso de mim... Vou levar isso como um elogio! Obrigada!

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  3. Ausência

    Por muito tempo achei que a ausência é falta.
    E lastimava, ignorante, a falta.
    Hoje não a lastimo.
    Não há falta na ausência.
    A ausência é um estar em mim.
    E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
    que rio e danço e invento exclamações alegres,
    porque a ausência, essa ausência assimilada,
    ninguém a rouba mais de mim.

    Carlos Drummond de Andrade

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  4. Esse poema de Drummond me fez lembrar um trecho de música do Capital Inicial: "eu quase posso tocar o silêncio..." Isso sem falar do texto "A Coisa" do Heidegger!

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