quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

"I do my smiling in the rain."

Acho que não vai mais parar de chover por aqui... Meu guarda-chuva já não sabe mais o que é estar seco. Minhas roupas no varal não conseguem ficar secas. Meus sapatos estão sempre molhados. As poucas calçadas que existem estão repletas de poças maiores do que a capacidade das minhas pernas para pulá-las. As ruas estão repletas de verdadeiros lagos, por onde os carros passam e me molham sem cerimônia. O céu, já sem esperança, está encoberto por nuvens espessas. O vento sopra gelado, rebocando as pessoas e seus guarda-chuvas. Chove e chove chuva sem parar por aqui. Resumindo: Brasília cheira depressão pluviométrica.
Cansada de me proteger de tanta água por todos os lados, decidi fechar o guarda-chuva e deixar que a garoa da manhã me molhasse. Ela caía fininha, suave e ía tomando conta do que ainda estava seco: aos poucos já sentia no meu rosto uma umidade leve e gostosa. Quando dei por mim, estava carregando um sorriso idiota e caminhava como se tivesse molas adaptadas aos meus sapatos vermelhos. Apesar de toda a tristeza que uma chuva insistente pode inspirar, eu estava ali, feliz e cheia de vida, satisfeita com a garoa que caía e me umedecia de mansinho. Há muito tempo não me sentia assim: feliz, acima de tudo, apesar da chuva ou de qualquer outro contratempo. Sim, não sou mais a mesma, sinto que algo em mim mudou. O que mudou exatamente eu ainda desconheço, mas sei como cheguei até aqui. Isso me basta. E a chuva tímida da manhã me mostrou isso.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Paralelos

Mais um conto meu...

Há exatos três meses já não se falavam. O silêncio já tinha se tornado tão denso que era possível perceber a espessa parede que os separava. Tudo estava resumido numa só lembrança que já havia sido compartimentada em alguma esquina da sua memória... Observava a paisagem que corria pela janela do carro, quando escutou o som que vinha do telefone. Uma mensagem, e não uma mensagem qualquer, era responsável pela interrupção do silêncio.

Há exatos três meses teve notícia dela. Percebeu, ao acordar naquele dia, que o denso silêncio revelava a distância que surgia, fazendo com que o medo da real perda o invadisse cada vez mais. Saiu da cama e decidiu esquecer de lembrar-se dela.

Abriu a bolsa e encontrou o telefone. Expectativas à parte, avançou para o aparelho e... Não. Por que ele decidiu quebrar o silêncio? Por que uma mensagem? Relutou. Não sabia se queria saber dele.

Ligou a televisão. Esse é um dos seus filmes favoritos. Ela sempre falava desse filme... Trocou de canal. Culinária. Comida chinesa... Sempre comíamos naquele restaurante... Nosso segundo encontro... Trocou novamente de canal.

Por que ler? Por que ter acesso ao que ele pensa ou quer dizer? Mais uma vez: tudo já estava resumido e compartimentado em alguma esquina de sua memória. Desarquivar? Não... Deixou o aparelho de lado.

A televisão não estava disposta a colaborar com ele. Decidiu tomar um banho, deixar que a água levasse aquele coquetel de sentimentos embora. Ao entrar debaixo do chuveiro, percebeu que não tinha mais sabonete. Abriu o armário e lá estava ele: o último frasco de xampu deixado por ela.

Voltou a observar a paisagem que corria pela janela... A curiosidade tomou conta do espaço: precisava ler a mensagem, saber que palavras estavam esperando por ela. Avançou contra o aparelho novamente.

Chorou. Chorou tanto que o chuveiro não conseguia disfarçar a tristeza e o arrependimento que brotavam dos olhos. Preciso dizer o que sinto e tenho que ser rápido. Não posso ligar... Uma mensagem, o registro por escrito daquilo que quero. Preciso consertar isso. Preciso.

Correu os olhos pela longa mensagem, analisando cada palavra, interpretando cada expressão... No rádio, "The Hardest Part" preenchia o carro... Adeus, choro, tristeza, mágoa. Correu os olhos pela mensagem mais uma vez. Sorriu. Ele quer... Sorriu mais uma vez. Ele ainda pensa... Ele está arrependido.

Será que consigo tê-la novamente? Esperou a resposta para sua longa e desmedida mensagem, escrita com tanto esmero e dedicação.

Gargalhou. Riu tanto que já não tinha mais fôlego para sustentar aquele momento de êxtase. Depois de três meses ele conseguiu proporcioná-la um prazer tão intenso! Se soubesse, já teria lido a mensagem assim que a recebeu! Sentiu vindo de seu âmago duas palavras: bem feito. Sim, o sabor do troco silencioso era sorvete de pistache coberto com chantilly! E ela saboreou aquele momento que não parecia ter fim.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sublime

Amo o abraço intenso
Amo dos lábios o sabor
Amo o ebulir do meu sangue
E nunca parto sem calor
Amo o não-limite
Amo sorver o sentir
Amo o suspiro mais longo
Não quero pensar no porvir
Amo o falir do corpo
Amo a completa exaustão
Amo ir contra o tempo
Quero viver o eterno então.



Para você, Me. =*