sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Quase Fim de uma Bela Amizade

Ela passaria pela cidade por apenas um dia, mas decidiu que estava na hora de revê-lo. Afinal, os dois sempre foram tão próximos, sempre conversaram sobre seus problemas, sentimentos. Tinham gostos parecidos e pareciam ser menos amigos do que sempre se consideraram. Ela decidiu enviar uma mensagem, meio de comunicação comumente utilizado por eles. A resposta foi imediata e positiva; ela só tinha que dizer a hora e o local.

...

21h30. Pontual, lá estava ele, com aquele sorriso cheio de dentes, nas roupas que habitam o seu estilo não-estou-nem-aí-pro-que-dizem-de-mim. Ela também retribuiu o sorriso e se vestiu, mais uma vez, tão bem e tão sem esforço. O abraço com 8 anos acumulados de saudade parecia não ter fim. Decidiram o passeio e partiram.

...

"Nossa, nem parece que a gente está distante há tanto tempo!"
"Sim! É incrível imaginar que estamos sempre em contato por email, rede social, mensagens de telefone. Nós nem nos telefonamos."
Silêncio breve.
"Bom, mas há quanto tempo mesmo a gente não se vê, não se encontra fisicamente?"
"É... A última vez... A última vez foi quando a Tati comemorou o aniversário dela naquele boteco bacana... E a gente esticou na casa da Alê! É isso! Bom, isso aconteceu há... há... 8 anos..."
Ele engoliu a saliva mais seca dos últimos tempos. Ela não sabia como continuar a contar os detalhes do último encontro. Aliás, ela nem precisava: ele já se lembrava muito bem.
Silêncio longo, quebrado pelo garçom que, providencialmente perguntou se eles gostariam de pedir mais alguma coisa.
"Eu já estou satisfeito, obrigada! E você?"
"Eu também! Acho que a gente já pode pedir a conta, né?"
(Puxa... Eu não queria ir agora... E ela já quer a conta... Idiota! Quem mandou dizer que está satisfeito?! Muito burro!)
(Ele já deve estar cansado. Aliás, acho que ele deve estar é numa saia justa sem fim! Burra! Porque você tinha que dar tantos detalhes do último encontro??? Bastava fazer as contas e ser direta! Idiota!!!)
"Aqui está conta."

...

(Já sei... Acho que posso sugerir uma caminhada! Será que ela topa?)
(Que saco... Eu não queria ir pro hotel agora!)
" E aí? Você quer pegar um táxi? Ou quer caminhar um pouquinho?"
"Caminhar? Claro! A gente pode passar naquela casa de sucos que fica no caminho!"
"Perfeito! Eu topo!"

...

A conversa parecia não se esgotar. Já haviam se passado mais de 7 horas.
(Eu preciso falar sobre aquele beijo que não aconteceu... Sobre aquele abraço esquisito... Ai... Mas como fazer isso? Como perguntar sobre isso? Ele pareceu tão incomodado com o assunto...)
(Cara, como é que eu vou falar pra ela que eu me arrependi de não ter ido atrás dela naquele aeroporto? Será que ela vai me aceitar? E se ela disser que foi melhor do jeito que foi? Como é que vai ser?)
Faltavam apenas uns 15 metros até a porta do hotel.
"Bom, não sei quando eu vou passar por aqui de novo. Sabe como é, né? Meu trabalho é uma loucura só..."
(Cara, eu preciso dizer alguma coisa pra ela, mas não seria justo... Ela tem alguém...)
"É, eu entendo... O meu também tem me deixado maluco!"
Silêncio breve. Salivas mais secas. Corações disparados e à distância.
(É agora ou nunca... Acho que vou me manter quieta. Melhor assim. Ele é meu amigo. E só.)
"A gente se vê não sei quando, mas vamos manter contato!"
"Claro que a gente vai manter contato! Cara, como foi bom ter encontrado você de novo!"
"Digo a mesma coisa! Você precisa me visitar!"
"Eu vou tentar! Eu juro! Vamos combinar isso direito!"
Despedida. Abraço longo. 
E continuaram amigos mais uma vez.

Do site "Picture Book" (http://picture-book.com/taxonomy/term/1926).
Ilustração de Roberta Baird.

2 comentários:

  1. Tão imaginativamente verossímil, tão concluidamente em aberto, e há tanta vida pra se viver que esses protagonistas ainda darão várias reviravoltas em suas existências antes de sentarem numa pracinha para alimentar pássaros. Me agrada muito pensar no desenvolvimento das histórias após o "FIM", afinal, o "FIM" de uma história pode ser o fim para quem a lê, mas não para seus personagens.
    Achei especialmente interessantes os marcadores ao final do post, muito significativos.

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  2. Flor, dessa vez só vou dizer que passei por aqui e adorei.
    Qualquer hora falo com você sobre minhas impressões do conto, se quiser saber, é claro.
    Cheiro!

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