segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Plano Piloto

Mais uma noite na rua. Mais uma noite aprendendo cada vez mais nas ruas de Brasília. Mais uma vez bebendo e conversando e ouvindo coisas interessantes que me fazem pensar... Lá estava eu bebendo frisante num bar muito cult com amigos; de assunto em assunto, chegou-se ao planejamento de Brasília. Um dos ocupantes da mesa explicou que Lúcio Costa, ao planejar a cidade, tinha em mente a criação de quadras que funcionariam como pequenas vilas, onde os moradores encontrariam tudo de que necessitassem à distância de uma curta caminhada. Lúcio imaginava que cada quadra teria escola, comércio local e diversão e que as pessoas precisassem de seus carros apenas para ir ao trabalho. Simples assim. Gargalhei. Gargalhei aquela gargalhada que aqueles que me conhecem sabem bem. Essa é uma excelente piada! Pobre Lúcio! Tão ingênuo! De onde quer que ele esteja nesse momento, deve estar profundamente decepcionado com os desvios do seu planejamento, com o rumo que o Plano Piloto tomou, com a necessidade extremada de um carro para fazer praticamente tudo nesta cidade.
Bem, esse papo regado a frisante me fez pensar sobre planejamentos... Passamos tanto tempo planejando, pensando e repensando, traçando planos e estratégias para, no fim das contas, percebermos que a vida simplesmente acontece. Enquanto gastamos nossos chips cerebrais com o árduo planejamento de nossas vidas, elas estão correndo, fluindo, escapando do aprisionamento que tentamos construir. Na verdade, a dinâmica da vida é difícil de ser cercada, retesada, freada, acelerada... Ela simplesmente acontece no seu tempo e a seu modo. Acredito que seja mais saudável desejar. Os desejos são guias, iluminam a caminhada, mas não impedem o movimento natural das coisas. Eles permitem as mudanças súbitas de rumo ou a parada total; permanecem lá e servem de inspiração. Inspirados pelos desejos, realizamos mais e ficamos menos frustrados, porque não estamos fechados num esquema que tem que dar certo. Desejando, não adiamos o viver, aproveitamos cada dia. Concluindo, deixo aqui um trecho de Luiz Fernando Veríssimo: ‘Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu’.

P.S.: Nesta foto estou em mais uma jornada exploratória no mundo das bebidas alcoólicas... Esse é o trifásico... Três vezes eficiente. Hic! Hic!

terça-feira, 21 de agosto de 2007

'Ser' ou 'Estar': Eis a nova questão!

Sábado à noite. "Pista". Fato interessante: eu e Joana num apartamento cheio de gays. Sim, cheio deles... E há muito tempo não me sentia tão à vontade num local. Não, não pense que troquei de opção. A minha sensação de conforto vem de outro fator: as pessoas naquele local estavam sendo verdadeiras; estavam vivendo a verdade de sua opção; estavam na glória de sua essência. Fascinante. Não havia preconceito naqueles metros quadrados muito bem decorados... Qualquer um poderia ser o que é, sem medo de ser feliz! Pensando um pouco mais, fascinante e ao mesmo tempo triste... Sim, porque a impressão que tenho é que nem todas aquelas pessoas conseguem viver aquela verdade fora de alguns metros quadrados; nem todos nós conseguimos viver nossa autenticidade fora dos guetos que construímos ou que constroem para nós... São tantas as cobranças acerca do 'ser', que acabamos por optar em apenas 'estar' em determinadas situações, para que não soframos com a não-aceitação do nosso verdadeiro 'ser'. A cada dia que passa vejo com mais clareza que devemos lutar pela autenticidade, por mostrar quem somos e assumir com gosto o nosso 'ser'. Vale a pena 'ser'.
Bem, devaneios à parte, saí deste apartamento e fui para uma festa com Joana, Vinícius, Sandro e Gabriela. Me diverti muito: era o que eu precisava para recarregar o meu ânimo, a minha vontade de prosseguir. Nada melhor que dançar com os amigos, dançar músicas que eu adoro e curtir sem esperar nada além da deliciosa sensação causada pela liberdade de 'ser'. Não há melhor entorpecente que a liberdade de 'ser'... Pensando bem, vinho é páreo duro...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Dia dos Pais

Ontem foi dia dos pais. Há 12 anos esse dia me incomoda... Ao longo desse tempo tento desenvolver estratégias para fazer com que o dia passe, aliás, a época passe e eu não me machuque tanto com a falta do meu próprio pai. Dessa vez eu entrei num processo de alienação total no domingo: ouvi música, fiz faxina no meu quarto, vi dois filmes locados e não fui a qualquer restaurante ou shopping. Tudo para me manter longe do mundo que celebrava a presença dos pais.
Eu sei muito bem que esse é mais um dia eleito pela mídia para fazer com que as pessoas consumam mais, mas é o bombardeio sobre o assunto que me faz desmoronar. Meu pai faz muita falta; ele era um pai de verdade. E ouvir a cada dois minutos (às vezes até menos) que devemos celebrar este dia, é como se eu estivesse sendo lembrada na mesma freqüência da ausência do meu pai, da falta que ele faz. É horrível ter que encarar estes dias eleitos para comemorar a presença desta ou aquela pessoa na vida da gente, quando o que há é a ausência.
Fico pensando não só na minha angústia, mas na angústia de todos aqueles que não querem ser lembrados da ausência de alguém... Essas comemorações passam feito rolo compressor por cima de pessoas que, por um motivo ou outro, não têm o que comemorar. E então você pode me perguntar: "Mas por que você não celebra o pai maravilhoso que teve?" Respondo com outra pergunta: "Como celebrar a perda de alguém maravilhoso?" Não sei. Levar flores ao cemitério é triste demais para mim...
Pensando nestas comemorações é que me vem à cabeça uma frase que ouvi um dia desses: "Alguém tem que chorar para um outro sorrir." É verdade. E por isso me recolho na minha pequeninice, no cantinho do meu quarto, e choro baixinho para não superar as risadas do vizinho...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Vermes

Eu deveria escrever sobre vermes hoje. Sim, num acordo feito na mesa de um bar, comemorando o meu aniversário, topei escrever sobre vermes. Vocês sabiam que eles são os únicos seres capazes de serem sempre monogâmicos? Sim, porque, ao escolherem o parceiro, macho e fêmea se fundem. Parece papo de boteco mesmo, né? Pois é... Deixando de lado a veracidade ou não desta informação, o que vale é que elas se fundem, se fodem, são um. Lindo isso!!! Os vermes são lindos. Ao invés de serem dois, tornam-se apenas um. E eu que achava que o número um fosse o mais solitário... Mas há pluralidade no um. Existem dois no um. Fico pensando se é realmente possível essa fusão; dois parceiros que se encontram, se completam, se fundem... Fico pensando na possibilidade disso ser a chave para uma relação que dê certo. Apesar de serem dois, tornarem-se um, sem deixar de serem seres individuais. Complicado isso, à primeira vista, mas razoável após uma ponderação mais racional. Essa solução me parece boa porque, ao vermos essa unidade e percebermos que fazemos parte de algo maior, preservamos isso. Magoaremos menos e respeitaremos mais. Acusaremos menos e assumiremos mais. É, os vermes têm mesmo muito a ensinar para os meros seres humanos.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Please, take me back to the start.

Hoje acordei querendo voltar no tempo: queria uma máquina que conseguisse rebobinar minha vida. Queria voltar para o começo do meu findo relacionamento amoroso... Lá onde tudo começou não havia mágoa, ressentimento, impaciência, só havia esperança e a chance de fazer tudo certo. Aliás, o que é certo? O que é errado? Hoje, a impressão que tenho é que fiz tudo errado; e tudo parecia tão certo tempos atrás. O desejo de hoje, de voltar no tempo, é o desejo de ter uma chance de fazer diferente, de talvez aproveitar o crescimento de hoje para acertar no que já passou. Não consigo desligar meus pensamentos quanto às possibilidades impossíveis. Sim, impossíveis. Porque, embora crescemos com a experiência, não seremos outras pessoas. Não dá para comprar uma nova essência no mercado ou na padaria: somos quem somos. E talvez se fosse possível o tal retorno para o começo, agiríamos praticamente da mesma forma. Acredito que poucas coisas seriam diferentes: talvez um julgamento ou outro, mais paciência com os problemas, menos tolerância com a falta de respeito. E talvez estas poucas coisas fariam a diferença... Bem, nunca vamos saber! Nunca conseguirei a tal máquina, portanto nunca rebobinarei minha vida! Então, porque pensar nisso e desejar algo impossível? É melhor olhar para a frente, olhar para o hoje, porque isso é possível. Precisamos procurar as possibilidades possíveis e gastar nossa energia na construção da continuação da nossa história. O que passou, passou. Gone with the wind.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Complô Interno

Estava lendo o blog de um amigo e li o seguinte: "Memórias são involuntárias." Sim. As filhas-da-mãe das memórias surgem quando você menos espera. Ou pior: quando você não esperava e queria que elas já estivessem extintas, retornam como um elemento de tortura. Sim, elas surgem como se nosso cérebro (outro filho-da-mãe) estivesse de sacanagem com a gente, como se houvesse um grande complô interno contra a nossa capacidade de resistir. Sim, porque as memórias vêm e minam a nossa resistência, teimam em quebrar aquele muro que tentamos construir colocando um mísero tijolinho por dia. E, o que fazer? Bem, estou aceitando sugestões... Deixem suas contribuições, por favor!