quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sobre Paris e a fuga do real...

Como boa fã de Woody Allen, fui correndo assistir Meia-Noite em Paris, último filme do diretor-roteirista-ator. Bem, sobre o filme não tenho nada de negativo a dizer: me diverti horrores (graças às referências feitas a todos os escritores e pintores que conheço bem), as atuações foram muito boas (não gosto do Owen Wilson, mas confesso que ele me convenceu no filme), o roteiro é muito legal e as cenas de Paris são ótimas. Aliás, indico o filme a todos aqueles que entendem de arte e literatura (e aos que não entendem, é uma boa oportunidade para começar a entender)!

Sacre Coeur ao fundo.
Bom, assistindo o filme, foi impossível não pensar em escapismo, afinal de contas, o Movimento Romântico reside exatamente nisso. E quer lugar melhor pra fugir da realidade do que Paris??? A cidade é linda: a arquitetura é muito diferente daquilo que estamos acostumados a ver no Brasil, os museus estão repletos de história viva, os monumentos são lindos e conservados. O lugar é perfeito pra viver uma realidade paralela! Não é à toa que o personagem do Owen Wilson "viaja" pacas!


Dizem por aí que a cidade também é o lugar pra se viver histórias de amor, cheias de romance, passeando pelos cafés, curtindo a comida e o vinho refinados. E são vários os casais que escolhem a cidade das luzes para passarem sua lua de mel, acredito eu, em busca do tal romance mágico... E ainda existem outras pessoas que, "avulsas", buscam encontrar o tal romance nos braços de um típico francês, ou típica francesa.

La Tour Eiffel!
Já estive em Paris por 4 vezes... Mas confesso que não morro de amores por este canto da Europa. Nem vou discutir as circunstâncias, mas o fato é que eu decidi conhecer a cidade pelos elogios feitos por outras pessoas e não por uma curiosidade legitimamente minha. Andei, andei, circulei de ônibus, metrô e táxi, me perdi e me achei na cidade, curti a noite e o dia... Mas não consegui me apaixonar pelo resultado.


Eu até busquei viver o meu "romance mágico" lá por aquelas bandas: Marcio e eu já estávamos separados há 2 meses, por conta do período em que estava trabalhando no Consulado em Londres, e nosso reencontro acabou sendo em Paris. Meu coração estava disparado, enquanto fazia o percurso de trem; contava os minutos pra ver o Marcio ao vivo novamente. Sim, o reencontro na estação foi mágico, mas a sequência de fatos posteriores ficou aquém das expectativas...  =P Culpa de Paris? Não sei!

Museu do Louvre e sua Pirâmide.
Como já disse, a cidade enche os olhos... E este tipo de sentimento só me faz querer voltar a um lugar para apreciá-lo mais uma vez, para conseguir fazer aquilo que não tive tempo na última vez, mas não para querer conhecê-lo profundamente, querer vivê-lo no dia a dia, descobrir cada delícia da rotina que se descortina na esquina. Pra ser sincera, isso eu sinto por Londres (where part of my heart is...).


Acho que a popularidade de Paris é mais feita de fama e propaganda do que de resultados efetivos. Aliás, aquele lugar vive recebendo pessoas em busca de fugir da realidade, atrás da fantasia contada pelos outros, tentando achar um paraíso terrestre, onde o romance é mais gostoso e o passeio é mais chique. E mais: os parisienses não estão nem um pouco preocupados em sustentar a farsa - são antipáticos e xenófobos.

Le Jardin des Tuileries.
Resumindo: não concordo com o desespero por morar em Paris. Voltando ao filme, o personagem de Owen Wilson estava disposto a mudar-se pra lá, porque acreditava que o lugar era sua fonte de inspiração. Eu quero acreditar que o Woody Allen estava sendo irônico quanto a isso. Quero muito. Porque eu só entendo a necessidade de dormir, acordar e ganhar o sustento naquela cidade se você estiver perdido, sem entender muito bem a sua realidade.


Last but not least, amores são especiais porque são especiais. Romance existe onde as pessoas o vivem. Parisienses, na sua maioria, não são amáveis.

Arco do Triunfo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Lá pelas bandas do Uruguai...

Estava eu lá pras bandas de Montevidéu na última semana. Aliás, essa foi a primeira vez em que pisei na Ex-Província Cisplatina. Pois bem, minhas impressões sobre a cidade foram as melhores: limpeza, organização, tranquilidade, preços interessantes para quem ganha em reais, pessoas bonitas (principalmente os homens...), comida boa. 


Sanduíche fino de pão branco com capuccino no Café Oro de Rhin.


Os índices do país também são interessantes. 97% da população é alfabetizada (de verdade) e a educação não é somente um direito, mas uma obrigação. Desde jovens, os uruguaios acordam para as artes: a maioria da população é muito ligada em teatro e cinema (pude ver eu mesma isso: tropecei em salas de cinema, exibindo não somente os blockbusters norte-americanos, mas também muito filme espanhol, por exemplo.). A capital, Montevidéu, é considerada a cidade latino-americana de melhor qualidade de vida e se encontra entre as 30 cidades mais seguras do mundo, algumas das razões pelas quais foi escolhida para ser sede administrativa do Mercosul. De acordo com uma colega do Itamaraty, aquilo lá é "Montevidão". ;)  Bom, falo de tudo isso pra contar algumas outras histórias sobre o que vivenciei por lá.

Plaza de Cagancha. Vista da janela do hotel.

Uma coisa que não considerei muito legal no país foi o fato de o aeroporto ser "fechado" para táxis comuns. Outra: existe somente uma linha de ônibus, que passa uma vez a cada hora, que leve as pessoas até o Centro de Montevidéu. A única opção para sair do aeroporto acaba sendo a companhia de táxi particular, que cobra até o dobro pela corrida. No meu caso, tive que desembolsar 1.145 pesos, o equivalente a quase 114 reais. Na corrida da volta ao aeroporto, paguei apenas 550 pesos, ou quase 55 reais. o.O

Na primeira noite, saí com outras duas colegas para um jantar, próximo ao Mercado do Porto. O restaurante era muito aconchegante, a temperatura estava baixa e a gente só pensava em carne e vinho. Pois bem, assim o fizemos: nos esbaldamos com os pratos carnívoros e saboreamos uma boa garrafa de Pinot Noir. Dada a minha posição na mesa, tive a visão privilegiada do balcão: era um grupo de homens olhando pra gente e cochichando de vez em quando. Achei que estávamos arrasando e deixei pra lá.


Teatro Solis.
Dia seguinte: Reunião do Comitê de Fronteira, Grupo de Trabalho sobre Educação. Papo vai, papo vem, meus coleguinhas uruguaios mandaram a seguinte (já traduzido pra facilitar a vida): "As mulheres não se sentam sozinhas à mesa de um bar para beber... Isso não é visto com bons olhos. Sempre há um homem para fazer companhia." Gente, pára tudo! Rolou aquele momento de epifania: Bianca, você está numa região muito TFP (para aqueles que não conhecem, isso significa Tradição, Família e Propriedade), basta se lembrar de que logo ali está o estado do Rio Grande do Sul. Foi aí que tudo fez sentido sobre os homens ficarem "mirando" as moçoilas enquanto elas bebiam e gargalhavam sem parar!


Uma das várias churrasqueiras no Mercado del Puerto.

Outra historinha. Estávamos tomando o café da manhã (muito bem servido, cheio de coisinhas gostosas - Hotel Balmoral Plaza), quando não pudemos deixar de reparar num casal de brasileiros. Ele sentou-se à mesa e ela o servia igualzinho a uma mucama: "Eu quero com leite, viu?" "Nãããão! Você colocou muito leite!" "Eu quero mais pão. Pega lá." Entendo que algumas mulheres se amarram em servir os namorados e maridos, no maior estilo deixa-que-eu-cuido-de-você, mas aquilo era muito absurdo. Era quase escravidão. E pior: ela  fazia tudo sorridentemente.


Tango ao vivo no Baar Fun Fun.

E o onde é que eu quero chegar com isso? Não posso pensar nos indicadores de bom desenvolvimento do Uruguai e deixar de comparar com os papéis estabelecidos para homens e mulheres no país. Aliás, tomo a liberdade de dizer que esses papéis se estendem para aquela região, incluindo o extremo sul do Brasil. E esta região não é a única a restringir o papel feminino.


Resumindo, ninguém é melhor que ninguém. Penso que homens e mulheres são diferentes, seus corpos funcionam de maneiras apenas semelhantes. E essa diferença é fantástica e é ela que garante a continuação da humanidade. Mas todos merecem ser tratados com o mesmo valor, seres capazes de agir e pensar. 


Abaixo o machismo.
E abaixo o feminismo. 
Viva a terceira margem (sim, aquela de Guimarães Rosa)!


P.S.: Adorei o Uruguai! Adoro diferenças!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nó na Garganta

Uma amiga divulgou esta tirinha no Facebook. Como adoro ler quadrinhos sobre (quase) tudo, fui checar. E meu sentimento foi exatamente esse: nó na garganta. E vocês só precisam ler a tirinha logo aí embaixo para entenderem o meu sentimento.

Antes de mais nada, registro aqui os créditos. A tirinha original é do site "What is deep fried", onde outras duas estórias da personagem 'Clarissa' podem ser lidas. O blog que postou esta tirinha com os balões de diálogo já traduzidos para o português é o "Escreva Lola escreva".

Para ler os quadrinhos num tamanho maior, basta clicar em cada uma das imagens.






Acho que não há dúvidas sobre o que está acontecendo com a Clarissa, né?  :/

sábado, 2 de julho de 2011

Mais Clarice...

"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."


(Clarice Lispector)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Enfim, sós!

Não passo por aqui desde que minha saga casamentícia começou a esquentar... Os preparativos, o outro blog, a lua de mel, as listas de presentes, enfim, tudo me dificultou a frequência! Peço desculpas pela milionésima vez...

Bem, considerando que o tema casamento não me abandonou ainda, afinal de contas, nem três meses se passaram, venho, mais uma vez, dar meus pitacos sobre isso... A origem deste post remete a uma notícia recente sobre um querido amigo meu (já aviso que não vou citar nomes por aqui...), que, no auge de seus 20 aninhos, anunciou o seu casamento. "Opa! Pára tudo! Como assim?!" (Estão vendo? Já sei como vocês estão reagindo. E eu também reagi assim.) E digo mais: a questão da idade não foi dos maiores agravantes.

O meu amigo fofo conheceu a sua agora-noiva há apenas três meses atrás. E eles se encontraram 'fisicamente' umas três vezes. E se falaram virtualmente umas três centenas de vezes. E todo mundo não consegue entender o que está acontecendo com o cara-projeto-de-garanhão do grupo.

É claro que, depois de tomar conhecimento de tudo isso, foi impossível não pensar na minha própria experiência, nas coisas que já assisti por aí, nas consequências de se casar mais cedo ou mais tarde, nas partes boas e ruins de uma relação entre duas pessoas debaixo do mesmo teto. Enfim: estou preocupada com meu amigo.

Antes de oficializar o casamento, eu e o Marcio já morávamos há algum tempo juntos, por questão de logística (e outras cositas más...). Somando tudo, desde o dia em que nos conhecemos até o dia do casamento, passaram-se 3 anos, 7 meses e 9 dias. É óbvio que jamais vou dizer que eu o conheço muito bem, porque muito tempo se passou, mas posso afirmar que tive algum tempo para avaliar alguns aspectos que acho relevantes sobre a personalidade dele, os hábitos, as manias... 


Não sou nenhuma mestre no quesito casamento, mas já concluí que a vida de casado merece um tratado! Tudo é muito complexo, mesmo já tendo algum conhecimento sobre o parceiro. Já quis matar o Marcio algumas vezes, já quis viajar pra algum lugar bem longe e SOZINHA, já curti e odiei a rotina... É muita coisa! ;)

No final, o que me mantém com ele é um amálgama de sentimentos que vai desde a parceria, passa pela paixão pelo amante e termina no amigo. Acho que é isso que pode definir amor. Pelo menos, pra mim. E tem mais: descobri também que eu não amo o Marcio todos os dias. Ninguém consegue fazer isso. Tem dias em que você está emburrado, de saco cheio e não vai conseguir dizer que ama honestamente. Então, é melhor não fazer. E a pessoa que está com você tem que entender isso. Do contrário, não tem futuro.

Outra coisa: ninguém é de ninguém. É a mais pura verdade. Não dá pra achar q o outro vai te pertencer depois do casamento. Aliás, para o bem do casamento, é melhor que os dois tenham seus amigos juntos e separados da relação, que tenham relações fortes além daquela que existe com o parceiro. Isso ajuda a aliviar a pressão.

Last but not least, e já falei sobre isso aqui no blog, a gente tem que se casar pelo motivo certo. Não o que todo mundo diz que é certo, mas o seu motivo certo, aquele que vai sustentar a sua motivação naquela relação. Afinal, quem vai encarar o "enfim sós" é você e  quem você escolheu para estar lá.