terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Dignidade dos Problemas

Acompanhei na última semana a enxurrada de "shares" para o vídeo de um rapaz iraquiano que participa de (mais) um programa à procura de novos talentos. Você não viu ainda? Não sabe do que estou falando? Então assista ao vídeo logo aqui, ó:


Bom, o Emmanuel Kelly, conforme dados fornecidos pelo vídeo, é iraquiano de origem e tem um irmão (que também aparece no vídeo). Os dois têm deficiências decorrentes de guerra química e foram deixados dentro de uma caixa de sapatos, literalmente abandonados no meio do caos. Mas a sorte decidiu sorrir para os dois: foram adotados por uma australiana que os ama como filhos. O tempo passou, Emmanuel sempre quis se apresentar como cantor, decidiu passar por cima de sua condição de portador de deficiência e foi dar a cara a tapa no Programa X-Factor da Austrália. (E o cara canta bem!!!)

Não, este post não tem por objetivo divulgar mais uma vez a história do rapaz. O que me fez recapitular isso tudo e parar para escrever um texto para este blog foram os comentários das pessoas ao fazerem a divulgação do vídeo. Eram intermináveis as declarações do tipo "meus problemas não são nada", "me sinto um idiota por sofrer com os meus problemas", "nossa! isso é que é problema!", "ai, como sou patética com os meus problemas tão pequenos". E por aí vai...

Minha gente, a primeira coisa que me passou pela cabeça ao assistir o vídeo foi "cascalho! o cara é um sobrevivente! que exemplo de atitude positiva!". A segunda coisa foi: "cascalho! o cara canta muito!". A terceira e última: "Imagine do Lennon?! putz! bom demais! já tá ganho!". E só. Em momento algum eu me achei idiota por estar preocupada com o marido da minha tia que está com um problema seríssimo de coração, nem me senti patética por chorar no dia do aniversário do meu pai que já faleceu e muito menos boba por não parar de pensar nas minhas contas. O que eu quero dizer com isso?

O seu, o meu, os nossos problemas não são menos importantes do que aqueles problemas enfrentados pelo Emmanuel, seu irmão ou a mãe deles. Cada questão tem uma dimensão e um significado na vida de cada um. Esse lance de ficar vendo os problemas dos outros e ficar achando que você está bem porque o seu próprio problema é 'menor', porque o outro está mais ferrado do que você, parece muito errado pra mim. O meu legado, o seu, o do Emmanuel pertencem a pessoas diferentes, que sentem de maneira diferente, que têm uma história diferente. Não é justo criar uma única escala, medir a importância dos problemas das pessoas e dizer quem é que pode ou não sofrer.

O que importa pra mim, na verdade, é o que as pessoas fazem com os problemas que "recebem", a capacidade delas de fazer ou não caipirinha com os limões que a vida dá! No caso do Emmanuel, o cara é um sobrevivente, que não ficou trancado em casa choramingando pelos cantos. Esse tipo de atitude me inspira a buscar soluções para as minhas questões e não julgá-las sem importância e dignas de serem deixadas pra lá.

Pronto. Era esse o meu recado. Podem me odiar se quiserem. Mas acho que todos os problemas são dignos de atenção e respeito. E tenho dito.