terça-feira, 12 de julho de 2011

Lá pelas bandas do Uruguai...

Estava eu lá pras bandas de Montevidéu na última semana. Aliás, essa foi a primeira vez em que pisei na Ex-Província Cisplatina. Pois bem, minhas impressões sobre a cidade foram as melhores: limpeza, organização, tranquilidade, preços interessantes para quem ganha em reais, pessoas bonitas (principalmente os homens...), comida boa. 


Sanduíche fino de pão branco com capuccino no Café Oro de Rhin.


Os índices do país também são interessantes. 97% da população é alfabetizada (de verdade) e a educação não é somente um direito, mas uma obrigação. Desde jovens, os uruguaios acordam para as artes: a maioria da população é muito ligada em teatro e cinema (pude ver eu mesma isso: tropecei em salas de cinema, exibindo não somente os blockbusters norte-americanos, mas também muito filme espanhol, por exemplo.). A capital, Montevidéu, é considerada a cidade latino-americana de melhor qualidade de vida e se encontra entre as 30 cidades mais seguras do mundo, algumas das razões pelas quais foi escolhida para ser sede administrativa do Mercosul. De acordo com uma colega do Itamaraty, aquilo lá é "Montevidão". ;)  Bom, falo de tudo isso pra contar algumas outras histórias sobre o que vivenciei por lá.

Plaza de Cagancha. Vista da janela do hotel.

Uma coisa que não considerei muito legal no país foi o fato de o aeroporto ser "fechado" para táxis comuns. Outra: existe somente uma linha de ônibus, que passa uma vez a cada hora, que leve as pessoas até o Centro de Montevidéu. A única opção para sair do aeroporto acaba sendo a companhia de táxi particular, que cobra até o dobro pela corrida. No meu caso, tive que desembolsar 1.145 pesos, o equivalente a quase 114 reais. Na corrida da volta ao aeroporto, paguei apenas 550 pesos, ou quase 55 reais. o.O

Na primeira noite, saí com outras duas colegas para um jantar, próximo ao Mercado do Porto. O restaurante era muito aconchegante, a temperatura estava baixa e a gente só pensava em carne e vinho. Pois bem, assim o fizemos: nos esbaldamos com os pratos carnívoros e saboreamos uma boa garrafa de Pinot Noir. Dada a minha posição na mesa, tive a visão privilegiada do balcão: era um grupo de homens olhando pra gente e cochichando de vez em quando. Achei que estávamos arrasando e deixei pra lá.


Teatro Solis.
Dia seguinte: Reunião do Comitê de Fronteira, Grupo de Trabalho sobre Educação. Papo vai, papo vem, meus coleguinhas uruguaios mandaram a seguinte (já traduzido pra facilitar a vida): "As mulheres não se sentam sozinhas à mesa de um bar para beber... Isso não é visto com bons olhos. Sempre há um homem para fazer companhia." Gente, pára tudo! Rolou aquele momento de epifania: Bianca, você está numa região muito TFP (para aqueles que não conhecem, isso significa Tradição, Família e Propriedade), basta se lembrar de que logo ali está o estado do Rio Grande do Sul. Foi aí que tudo fez sentido sobre os homens ficarem "mirando" as moçoilas enquanto elas bebiam e gargalhavam sem parar!


Uma das várias churrasqueiras no Mercado del Puerto.

Outra historinha. Estávamos tomando o café da manhã (muito bem servido, cheio de coisinhas gostosas - Hotel Balmoral Plaza), quando não pudemos deixar de reparar num casal de brasileiros. Ele sentou-se à mesa e ela o servia igualzinho a uma mucama: "Eu quero com leite, viu?" "Nãããão! Você colocou muito leite!" "Eu quero mais pão. Pega lá." Entendo que algumas mulheres se amarram em servir os namorados e maridos, no maior estilo deixa-que-eu-cuido-de-você, mas aquilo era muito absurdo. Era quase escravidão. E pior: ela  fazia tudo sorridentemente.


Tango ao vivo no Baar Fun Fun.

E o onde é que eu quero chegar com isso? Não posso pensar nos indicadores de bom desenvolvimento do Uruguai e deixar de comparar com os papéis estabelecidos para homens e mulheres no país. Aliás, tomo a liberdade de dizer que esses papéis se estendem para aquela região, incluindo o extremo sul do Brasil. E esta região não é a única a restringir o papel feminino.


Resumindo, ninguém é melhor que ninguém. Penso que homens e mulheres são diferentes, seus corpos funcionam de maneiras apenas semelhantes. E essa diferença é fantástica e é ela que garante a continuação da humanidade. Mas todos merecem ser tratados com o mesmo valor, seres capazes de agir e pensar. 


Abaixo o machismo.
E abaixo o feminismo. 
Viva a terceira margem (sim, aquela de Guimarães Rosa)!


P.S.: Adorei o Uruguai! Adoro diferenças!

3 comentários:

  1. Gostei muito da sua descrição do Uruguai. Carnes, vinhos, organização, segurança e mulheres que obedecem sorrindo todas as ordens dos homens, ah! O paraíso masculino! Hehehehe =)
    Bobeira, quem sou eu pra falar isso a sério. Todas as mulheres que mais me impactara sempre foram aquelas com personalidade, opinião própria, força, caráter, sangue nas veias, VIDA! Perfeita a sua colocação final. Tomara que mais homens e mulheres entendam que, ao invés de brincar de gangorra com suas forças, deveriam era se unir nos balanços dos parquinhos da vida e brincar mais de trepa-trepa (pun intended).
    Bjs =)

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  2. Valeu pela visita, querido Marcos!
    ( trepa-trepa é demais! ;) )
    Beijo!

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  3. Blanche, fazia tempo que não te lia, querida! Como sempre, adorei! Adorei o texto, a linha de raciocínio, tua forma de passar sua opinião. Estás mais que certa! Abaixo isso tudo! Bobagem danada. Respeito é bom e todo mundo gosta. Sempre há que se valorizar o outro enquanto outro, ser humano. Sem sexismos.
    É isso. Um beijão!
    Saudades de ti.

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